sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Venom - Black Metal

O álbum "Black Metal" lançado em 1982 pela banda inglesa Venom, foi escolhido por The Magician para análise.




Phantom Lord

Após cerca de 10 anos ouço o tão-influente Venom mais uma vez... 
Não me lembro exatamente das músicas desta banda que ouvi no passado mas notei uma diferença nítida: as músicas deste álbum (Black Metal) parecem mais rústicas, menos guturais e (parte delas) menos aceleradas do que as músicas que ouvi por volta de 2003.
 A rusticidade em si não chega a ser um grande problema, mas a sonoridade aparenta ser bem amadora com um trabalho instrumental no máximo de "nível simplório". 

Não conheço muito da discografia da banda, mas se o caminho escolhido após o álbum "Black Metal" foi o do vocal urrado, tenho certeza de que nada melhorou... 

Acredito que o Venom teve sua importância no cenário Heavy Metal (e seus respectivos subgêneros), porém este disco apresenta-se como um embolado de faixas toscas que apesar de ruim não chega a ser completamente insuportável de se ouvir. E falando em embolado de faixas toscas, por dificuldades "técnicas" prefiro não divulgar uma avaliação "destrinchada faixa a faixa"... 

Modificadores:



Nota Final: 4,0

The Trooper
3Pode parecer que não, mas estamos falando de uma banda importante para o cenário do heavy metal. Esses caras foram pioneiros em parte, seu estilo era um proto-thrash, para mim, eles pegaram as músicas mais rápidas do Motorhead, misturaram com Black Sabbath e encheram seus álbuns com elas.
Como o guitarrista, Konrad Lant, o Cronos, afirmou, embora os membros não fossem satanistas, as letras eram uma celebração ao mal devido à necessidade de superar músicos como Ozzy Osbourne, do Black Sabbath, que: "sing about evil things and dark figures, and then spoil it all by going: 'Oh, no, no, please, God, help me!'"*. Pois é, o resultado são letras parecidas com o que foi comentado aqui na resenha de Iron Blessings, do Sacred Steel. Para mim, uma merda, mas o vocalista pelo menos não defeca com sua voz, faz um estilo mauzão meio Lemmy Kilmister, e o instrumental, embora limitado, e com uma produção digna do Burning Witches, do Warlock, manda razoavelmente bem.
Enfim, não é um álbum ruim, se não fosse um álbum do nicho satanista, e a banda em geral procurasse se encaixar em outro setor do mercado, talvez a história do thrash metal tivesse sido diferente.
Meu destaque vai para a segunda faixa, To Hell and Back, que é um pouco mais lenta que as demais, e talvez justamente por isso se destaque, com um clima melancólico e mais uma letra monga.

Nota: \m/\m/\m/

*"cantam sobre coisas más e figuras negras, e então estragam tudo cantando: 'Oh, não, não, por favor, Deus, me ajude!'" - tradução livre da wikipedia

The Magician
A seleção do disco "Black Metal" da banda inglesa Venom como post de nro. 112 do nosso blog resgata a história de toda uma variação do Heavy Metal, homônima, que a maioria dos críticos deste site ignora mas que é razoavelmente importante para a indústria atual do Metal. Trata-se afinal de uma lição de casa ainda não feita pelos Metalcólatras.

Embora com raízes nas pautas setentistas de Geezer e Iommi, essa história na verdade começa em 1981 com "Welcome to Hell" onde o ângulo e a proposta lírica da banda já estavam bem definidos; foi com essa tiragem na verdade que a banda definitivamente semearia um terreno extremamente fértil para o discurso satanista.

Mas o segundo álbum é o que foi adotado por todos seus seguidores como material referencial e arquétipo para uma sequência de gerações contínuas de acordes profanos que orientaram os subgêneros extremos até os dias de hoje. Por isso vale uma rápida análise do conteúdo musical do álbum "Black Metal".

O trio inglês propôs uma sonoridade realmente suja pra concentrar o material, primeiramente ao apresentar fatores de produção precários e em segundo ao equalizar os instrumentos em frequências muito parecidas e não destacadas; esta proposta aliada à abordagem musical incomum para a época de grooves arrastados cheios de distorção com beats corridos, daria uma assinatura inovadora de desordenação às composições , que se tornaria uma pré-característica do metal extremo de nichos como Trash/Death e Black Metal. Além disso o vocalista "Cronos" coloca suas partes em interpretações coléricas que seriam também uma forte influência para estes mesmos sub-gêneros posteriormente.

Ainda assim, com a óbvia falta de aptidão dos músicos da banda, percebe-se que existe uma mínima preocupação com a estruturação e distribuição dos tempos e da leitura melódica da obra como um todo. Mas não dá pra negar que em alguns momentos, utilizando-se da "licença poética" de um trabalho criado no viés de produto extra-popular ou marginalizado, indiscutivelmente a harmonia é prejudicada pela mesma falta de talento.

O Venom, sob esse aspecto - o apenas musical - ainda compete com muitas outras bandas e colaboradores de maior peso, que redefiniram os padrões sonoros refinados ao longo do tempo, dando um corpo ao HM esboçado pelos roqueiros dos anos 70; entre esses responsáveis por essa "arte-final" estão inúmeras bandas que nos induziram à aceitação dos vocais guturais, distorções ultra saturadas, grooves machine-guns, bumbos duplos e solos esmerilhados de guitarra.

O que sobra então como inquestionável "contribuição" dos ingleses para o Metal é a indução do discurso oficial do roqueiro anti-cristo, ou seja, a apresentação formalizada através de uma mídia para as massas (no caso, o rock) da figura injuriosa da personificação do mal como objeto de respeito e adoração - muito embora também este tema já tivesse sido cercado anteriormente por bandas como Misfits, Rolling Stones e obviamente o Sabbath.

Sendo assim, sem qualquer intenção de classificar a temática da "literatura" do Heavy Metal em um plano lógico dividido pelo eixo do "certo x errado", me parece claro que um dos principais aspectos do gênero é que se trata de um nicho de músicas de não-aceitação ou de rebelião à um cenário pré-estabelecido de situação totalitária. 

Portanto, quando o Heavy Metal deixa de orbitar a esfera de reflexão filosófica não crítica, aquela que se nivela apenas como uma expressão artística, interlocução histórica, ou ainda alguma referência metafórica externa; ele acaba adentrando sua outra face complementar, que expõe sua característica desafiadora e questionadora, atingindo uma das três colunas controladoras da sociedade contemporânea: 1-) a política, diversas bandas atacam os governos, as instituições militares e a injustiça social; 2-) a religião e a igreja, acusada de ser o principal meio de controle das massas através de discursos conformistas que sustentam a verdadeira hierarquia de poder oculta; 3-) e os valores de moralidade disseminados, que inibe a experimentação dos indivíduos por meios de auto conhecimento supostamente subvertidos, como as drogas, o álcool, o sexo, etc...

Não à toa, os temas satanistas do Venom, rapidamente colocados em posição de escarnio pela nossa sociedade ocidental secularista, encontraram sua morada em uma cultura aderente ao seu contexto. Os nórdicos (principalmente a Noruega), impelidos pela expansão catolicista da época medieval aderiram à causa do Venom como um bastião pagão traduzido por guitarras elétricas e bumbo duplo, misturado à violência exacerbada e comportamento moralmente inaceitável (como queimar igrejas).

O Venom em 1981 abriu os portões do inferno e liberou os diabinhos, que no decorrer dos anos não se sustentaram na mídia e prestes a ficarem órfãos foram adotados pelos descendentes metaleiros dos Vikings , que mal sabem que o chifrudo não morava em Asgard, nem nunca esteve nos salões de Valhalla...

Nota 5,0 ou \m/\m/\m/.
  


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